domingo, 20 de junho de 2010

O Ano da Morte de José Saramago

Tal como todos os alunos do 12º ano é claro que eu não poderia ser a excepção à regra e, como tal, estudo afincadamente para o Exame de História que irei realizar na Segunda-Feira e que, espero eu, me corra bem. No entanto, ontem o meu dia (meu e de todos os portugueses) ficou marcado pela morte do escritor José Saramago. Sem dúvida de que não poderia ter ficado indiferente a esta notícia.Confesso que, antes de conhecer José Saramago, e para grande vergonha minha, eu fazia parte daquelas pessoas que dizem "não leio Saramago porque não sabe escrever". No entanto, só a partir do 9ºano é que comecei a dar verdadeiro valor a este escritor universal. A minha primeira experiência com Saramago remonta, portanto, ao ano de 2007 quando comecei a estudar em aula "O Conto da Ilha Desconhecida". Fiquei simplesmente maravilhado. A capacidade de efabulação de Saramago é algo que, a meu ver, ultrapassa qualquer escritor. Além disso, percebi o quão ingénuo, e ao mesmo tempo ignorante, eu era em relação à sua escrita mudando radicalmente de opinião. Afinal, já dizia o escritor, "todo o dito se destina a ser ouvido" e é por isso que Saramago se assumia não como um narrador "normal", mas sim como um narrador oral. Afinal, desde quando é que na oralidade há pontuação? Um escritor que começa um conto com "Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco." só pode ser um escritor especial e, de facto, Saramago era-o. A simplicidade e ao mesmo tempo a forma directa como se dirigia aos leitores era sublime, e por isso é que a cada momento que estes entravam naquela história (que se assumia de cada um) nunca mais a conseguiam largar. Ontem Portugal ficou mais pequeno, muito mais pequeno. No entanto entristece-me ver uma população que nunca deu verdadeiro valor a este escritor. Hoje estava eu a "navegar" por aquela famosa rede social que todos nós conhecemos quando me deparo com esta frase: "Mais um comuna espanhol que se foi e que não faz cá falta nenhuma". Pergunto-me: como é que o povo português quer compreender realmente a figura e a escrita de Saramago quando faz comentários deste tipo? Pegando na História, cujos séculos estou a estudar, lembre-se a queda do Muro de Berlim em 1989. Sem dúvida que podemos fazer um paralelismo com a população portuguesa. De facto, a quantidade de "muros" que existem dentro das cabeças das pessoas impossibilitam a devida compreensão deste escritor. Simples declarações como "Não leio Saramago por ser Comunista" têm tanto de triste, como de deprimente. E digo-vos, eu não sou Comunista mas também não tenho o hábito de julgar as pessoas pela sua orientação partidária. Além de que hoje, ao ver as pessoas em fila à espera de ver Saramago em câmara ardente nos Paços do Concelho, senti um misto de alegria e desconfiança. Alegria porque José Saramago, não renegando o país como tantos pensavam que ele tinha renegado, quis ser queimado em Portugal e quis que as suas cinzas permanecessem no seu país, país esse onde ele tinha aprendido tudo o que lhe possibilitou a iniciação na escrita; desconfiança porque não sei até que ponto foram genuínas as manifestações que se fizeram em Portugal. Portugal que não deixou que a Exposição sobre a Vida e Obra de José Saramgo fosse realizada , tendo obrigado todos os seus admiradores a deslocarem-se a Madrid; Portugal que excluiu o "Evangelho segundo Jesus Cristo" da lista de candidatos ao Prémio Literário Europeu e Portugal que, acima de tudo, motivou a "fuga" de Saramago para Espanha.Porém, e em jeito de conclusão, hoje é dia de "esquecer as águas passadas". Celebremos, colectivamente, a vida e a obra daquele que foi o maior escritor português de finais do século XX/inícios do século XXI e, talvez, um dos maiores escritores e contador de histórias universais. Tal como diz o povo, os homens partem mas a obra fica. Obrigado José Saramago, boa viagem.

Afonso Brás

2 comentários:

  1. Só discordo do 1º período do texto:

    Nem todos os alunos do 12º têm história ;)

    De resto, adorei o texto.

    Que descanse em paz uma das grandes mentes do século XX.

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  2. Olá!
    Obrigado pelo comentário... e é bom saber que não fui o único a sentir a falta de objectividade...não é que resolva, mas pronto!
    Sim as que pus estão corretas mas não sei até que ponto tenho o número que eles pediram... fico à espera! Mas também concordo que ainda vai gerar alguma discussão...

    Um abraço!

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