sexta-feira, 9 de julho de 2010

Acessível é uma palavra controversa...

Todos os anos os jornalistas conseguem os mesmos comentários à saída dos exames: "Acho que foi acessível".
Acessível é uma palavra controversa, por um lado indica que não eram exames "extremamente difíceis" e por outro lado diz-nos que não eram do género que se faz "com uma perna às costas".
Muitos entendidos afirmam que os exames são "demasiado fáceis", mas tal classificação não justifica a revolta a que os estudantes têm direito, e que, como aluna, passo a explicar:
Os exames do secundário são imprescendíveis para quem deseja seguir para o ensino superior; os exames de Física e Química A, Geografia A e Biologia e Geologia, por exemplo, avaliam matéria leccionada durante dois anos. Chegados aos exames os alunos são submetidos a questões de escolha múltipla, resposta extensa, cálculo, resposta curta, entre outras.
Ora, após dois anos de trabalho árduo e estudo e tendo em conta que os exames são um material de avaliação cujos responsáveis (Gave) elaboram, e que são depois revistos por professores universitários (tendo-se em atenção o pagamento a todos os intervenientes), não se compreende como podem existir erros (incluindo erros científicos em exames de disciplinas das ciências), perguntas que não avaliam a matéria apreendida, e cuja resposta provém da interpretação de gráficos e textos, e mesmo questões cuja resposta depende do ponto de vista (questão 2 do grupo I da primeira fase do exame de Biologia e Geologia de 2010 por exemplo).
Os exames são necessários como forma de avaliação e controlo, mas são um intrave se não estiverem bem formulados. O que é que avalia um exame de Física e Química A onde abundam "armadilhas" sob a forma de pequenos detalhes que alteram o resultado e que são susceptíveis de escaparem a alunos que se encontram em condições de grande stress (a definirem o seu futuro)?
A compreensão de textos e a observação de gráficos já são avaliadas em exames de Português e Matemática, qual a necessidade de as questionar noutros exames quando existe muita matéria de dois anos que necessita de ser avaliada?
Quando somos confrontados com questões cujos tópicos de resposta não são referidos (ou seja não nos é dada nenhuma indicação de como responder) as más interpretações são inevitáveis, devido à nossa falta de conhecimentos sobre telepatia... Se numa prova de Biologia e Geologia nos pedirem para relacionar os gases libertados em erupções vulcânicas com a destruição da flora, os estudantes tanto podem explicar que os gases causam chuvas ácidas que desnaturam as proteínas das plantas, como podem referir alterações do clima ou mesmo recorrer às teorias da evolução (como o neodarwinismo). No entanto, os critérios de avaliação tendem a só considerar uma resposta correcta, e assim mesmos os alunos que conseguem relacionar bem os conhecimentos são "tramados".
Os exames são "acessíveis" pois permitem positivas tiradas por sorte a quem não sabe nada e diminuem as notas a quem estudou. A avaliação é necessária, mas que seja de qualidade, que nos permita demonstrar que estudámos e empenhámo-nos e não a sorte que tivemos em duas horas e meia.
Inês Proença

1 comentário:

  1. Aqui está a Inês, agora a Proença, a tocar num aspecto fundamental, nos dias que correm: os critérios de avaliação dos exames. A tinta que já fizeram correr! Pessoalmente, o quanto já escrevi sobre a questão e até falei, em sede própria (reunião das escolas com o GAVE)... mas, quem nos ouve??? aos alunos, aos professores?... o país está a ficar cada vez mais insano, doente. Como diz a Sabina: o país é um péssimo aluno.

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